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10 de dez. de 2010

A Experiência da Tecnologia do Futebol aos Árbitros na Copa Inovação

Brasil realizou a primeira experiência de uso da tecnologia visual no auxílio para decisões dos árbitros em partidas de futebol. A iniciativa teve o apoio dos Sindicatos dos Atletas Profissionais dos Estados de SP e RJ. Pesa-me observar que não vi em lugar algum a manifestação oficial da experiência por parte da Federação local, Confederação ou Comissões de Árbitros.

Deixando essas falhas políticas de lado, vamos ao que verdadeiramente interessa: os testes realizados e seus resultados.

Antes do americano Neil Armstrong descer do módulo Eagle e pisar na Lua, a NASA perdeu inúmeras espaçonaves e explodiu diversos foguetes; em outros pontos do mundo e do Universo, a Rússia colocava a cadela Laika em risco até se certificar que Yuri Gagárin estaria em segurança. E, assim, os objetivos louváveis foram alcançados através de testes, erros, tentativas frustradas e persistência. Não seria no futebol que a primeira experiência tecnológica seria marcada pelo sucesso absoluto.

Através da partida entre as seleções de Paulistas X Cariocas, no evento chamado de Copa Inovação, testou-se o uso do cartão azul, substituições ilimitadas e a permissão de que os treinadores pedissem revisão da tomada de decisão do árbitro em certas decisões e em número determinado.

Ótimo. Testar novidades é importante, até para saber se são úteis ou não. Particularmente, sou um defensor do uso da tecnologia no futebol (adotada paulatinamente e sem radicalismos), e abordei o que achava delas no artigo “A Tecnologia para o Árbitro de Futebol: Demagogia e a Realidade” (clique aqui para acessá-lo) e considerei as minhas dúvidas quanto a forma do uso em: “Fifa autorizará o uso da tecnologia no Futebol?” (clique aqui para acessá-lo).

O que pude observar ontem e o que já vi em outras oportunidades:

- Cartão Azul: não gosto; pude participar da experiência da FPF na administração Farah e sobre o comando do professor Gustavo Caetano Rogério, a respeito dessa nova punição intermediária. O problema se torna a subjetividade entre as 3 cores de cartões. A regra é muito boa quando se diferencia o Amarelo do Vermelho, e, ao introduzir o Azul, muitas vezes há uma acomodação em não se aplicar a Expulsão por Vermelho. Valeu como tentativa, mas não adotaria.

- Substituições Ilimitadas: ótima iniciativa. Talvez a melhor inovação de todas. Visto que cada vez mais o fator “condicionamento físico” é relevante no futebol, permitir um maior número de atletas participando da partida é válido. Até mesmo para os treinadores estrategistas, é legal poder contar com um jogador que outrora foi substituído para que volte mais descansado para a partida. O problema é: Como controlar as substituições e como dinamizá-las? Cá entre nós: se todos os jogadores substitutos participarem do jogo e alguns substituídos retornarem, nos atuais procedimentos de substituições, a cada final de jogo teremos de 10 a 12 minutos de acréscimos…

- Uso das imagens de vídeo para correção ou ratificação do árbitro: a mais polêmica de todas as inovações. Na experiência de ontem, muita confusão até mesmo pelo ineditismo das ações. O técnico tinha a permissão de “desafiar” a decisão do árbitro uma oportunidade em cada tempo. No primeiro desafio do jogo, solicitado pelo treinador dos Paulistas, Vágner Mancini, muita demora no recomeço do jogo e muita gente para se decidir. Não gostei do tumulto ocorrido na beira do gramado, em frente ao monitor. Mas, claro, é somente uma primeira experiência, vamos levar em conta isso. A câmera que o amigo Sálvio Spínola tinha no seu peito também leva a um questionamento: o ideal é lá onde ela estava ou mais próxima do campo de visão dele? (Nosso amigo virou o Robert Downey Jr do apito, o Homem de Ferro do futebol… rsrs) De repente, um inusitado capacete (daqueles de mineiros) poderia mostrar a mesma visão do árbitro, pela sua mobilidade, do que estar fixada no tronco. E por que ter a repetição da mesma visão, não era melhor a imagem diferente, de outro ângulo?

Claro, dúvidas e questionamentos necessários e que só testando vamos saber os resultados e melhorar as tentativas de acerto.

Talvez, a cada desafio, melhor seria o árbitro fosse em direção do monitor, assistisse o VT com o 4º. Árbitro e imediatamente reconsideraria ou não sua opinião. Sem treinador em cima dele ou capitães pressionando! A própria votação (na primeira ocorrência, 6 X 1 para a confirmação de um lance) não me agradou; não que seja democrático demais, mas sim burocrática demais.

Já imaginaram essas regras na partida recente do Campeonato Brasileiro entre Corinthians X Cruzeiro, tão polemizada? O que teria acontecido num momento assim? Imagino o Sandro Meira Ricci cercado por Tite e Cuca, tendo Fabrício e Willian fungando em seu cangote e com Andrés Sanches e Zezé Perrela querendo ir à frente do monitor também! O jogo não teria terminado ainda…

Claro, tudo isso é um laboratório que serve para discussão. Extremamente pertinente! Os pontos positivos e negativos só surgirão a partir desse começo, e repito como na introdução, acertando e errando que se iniciará o caminho do aperfeiçoamento. Agora, é lógico que testar em amistoso tem um viés muito grande do que se testar em partida oficial ou decisiva.

Texto do Prof. Rafael Porcari - veja máteria em seu blog:


Foto: Diário do Grande ABC

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